Encontre o que quer ver

6.3.06

Quebrando a rotina


















A impressão que tenho é que a mesmice das coisas acaba encurtando o tempo de forma muito acelerada. Quando estamos no alvorecer de um dia supostamente de rotina, cada minuto tem no mínimo, uns dez segundos a menos. A previsibilidade do que vai acontecer no instante seguinte diminui o tempo. Não podemos interferir no processo. Talvez por sabermos exatamente como vai ser o próximo segundo, deixamos de contá-lo. Daí, o subtraímos de nossa vida de forma inconsciente, mas inexorável e irreversivelmente.

Apesar disso, acho que foi pelo desarranjo dessa consciência de perda de tempo decorrente do ritual de minha vida, que acabei encontrando tempo para pensar em coisas tão inúteis quanto esta tese que agora me ocorreu. Assim, pensei também nas formas de driblar a mesmice, de dar um tombo nos inexoráveis segundos iguais de cada um de meus dias, e de contá-los todos, como se não os tivesse perdido. Talvez eu só quisesse com isso prolongar minha existência, que vinha sendo subtraída covarde e rudemente de preciosos momentos.

Mas não deu certo. No segundo dia em que eu vinha pensando nessa complexa equação, enquanto dirigia para o meu trabalho, pelas mesmas ruas de sempre e parando no mesmíssimo e eterno engarrafamento de meus dias iguais, me distraí completamente. Minha abstração advinda dessa mesmice me fez perder a noção de qual era o pedal do freio. Assim, permiti que batesse o pára-choque da frente de meu carro no pára-choque traseiro do carro que ia à minha frente. O pior de tudo, é que a mulher que o dirigia era brava demais. Custou um tempão para me desvencilhar da situação.

E lá se foi toda a minha tese. Por fim, concluí que se a mesmice pode acelerar o tempo, a falta de freio pode recuperar muito do tempo perdido, embora não seja ainda a melhor forma de resolver o problema. Preciso pensar um pouco mais nessa profunda questão filosófica.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...