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26.12.08

Buraco no teto

















Precisava de um buraco no teto,
não muito grande,
mas por onde passasse a lua.

Que em dias de chuva
fosse goteira,
e quando não, um raio de sol.

Não precisaria ser redondo,
forma muito vulgar de ser buraco,
mas que tivesse,
como todo bom buraco,
a dignidade do espaço vazio.

Era só do que precisava:
um buraco no teto
que mudasse de cor
ao bel-prazer do céu,
e por onde qualquer testemunha ocular
pudesse meter um olho.

Precisava desse buraco no teto
para que por ele entrasse
um fiozinho da conversa lá de fora;
para que um inseto qualquer
pudesse pousar para investigar;
ou então para que um perfume distante,
desses que a brisa carrega,
pudesse suavemente se alojar.

E se para nada disso servisse o tal buraco,
que por ele ao menos escapasse,
de quando em quando,
um pouco da ansiedade,
outro pouco da saudade,
e um tantinho do vazio de mim mesmo,
conforme a ocasião.

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Publicado nos anais do "XVII Congresso Nacional da Sobrames"
Legnar Editora - São Paulo -
Publicado no "Painel Brasileiro de Novos Talentos - Vol.I" 
Câmara Brasileira de Jovens Talentos - Rio de Janeiro - 1999
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