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14.3.09

Tribunal
























Hoje estive mais uma vez no tribunal do júri. É um palco tenebroso e enfadonho, um cara-a-cara com a morte, um verdadeiro mercado da justiça ou da falta dela. Ali tratam a vida e a morte como objeto de troca.

Os que mataram, porque seu negócio talvez seja esse mesmo, o de matar, estão ali como quem não quer nada. Devem acreditar que seja certo o que fazem. Muitas vezes alegam inocência. Noutras, nem isso. Só tentam deixar a impressão de que o que foi feito, é porque era para ser feito mesmo e pronto.

Os que defendem esses réus, tratam a morte como a coisa mais natural do mundo, quase sempre. Uma banalidade, muitas vezes. Gesticulam e encenam. Gritam! A morte é periférica aos seus trejeitos e apenas coadjuvante nos seus objetivos de inocentar o réu. Não é ela, a morte, nem ele o assassino, quem estão em julgamento, mas sim aquele cara com um par de algema nos pulsos, “uma pobre vítima desta sociedade exclusiva”, como dizem na maioria das vezes. Chega a dar dó de caras, homens ou mulheres com algemas, mesmo sabendo que, segundo testemunhas, foram verdadeiros algozes e manifestaram toda sua bestialidade tirando a vida de algum semelhante.

Já os que acusam, estes sim... São os primeiros a falar e a tentar comover a platéia e principalmente os jurados, com a tenebrosa lança da justiça nas mãos. Tentam empurrar os réus para o mais profundo castigo que possa ter o terrível crime de terem tirado a vida de alguém. Pelo que fez, o réu merece o fogo do inferno como castigo, arder na penitenciária, ao lado do demo, por 30 anos e quiçá, pela vida eterna. Precisa aprender a respeitar o dom maior, que é a vida.

O juiz é um caso a parte. Impassível, parece sempre o menos afetado por isso tudo. É quase como se estivesse num patamar distante da sociedade onde o crime foi cometido. Tanto é que, em pleno debate entre acusadores e defensores, com o júri tentando prestar a maior das atenções do mundo para não cometer injustiça na hora do SIM ou NÃO na sala secreta, cadê o juiz? O plenário nem percebeu, mas não há juiz nenhum assistindo aos debates que podem culpar ou inocentar um réu.

Mas os “sorteados” do júri permanecem lá o tempo todo, firmes e fortes, por mais que estejam sonolentos e irritados com a teatralidade de promotores ou defensores, por mais que estejam se sentindo ameaçados pelo olhar cabisbaixo e de soslaio do réu, o tempo todo em sua frente, como a dizer: “Veja lá como você vai votar, heim?... Dependendo do que você disser, quando eu sair dessa a gente acerta, viu, ô cidadão de ilibada conduta?”. Que situaçãozinha mais filha da puta esta, concorda?

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Publicado nos Anais da VII Jornada Médico Literária Paulista - 
Campos do Jordão - setembro de 2003
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