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27.3.10

Poesia para qualquer absurdo















Existe um pequeno detalhe: a diferença.
Qualquer um põe reticências a torto e a direito,
onde quer e onde cisma que elas servem.
Qualquer um usa aspas e citações,
em abundância ou com parcimônia,
quando quer e quando cisma.
É tudo uma questão de gosto, eis aí a diferença.
E para ser diferente é preciso uma relação,
um ponto de referência.
Nada é absurdo, sem ponto de referência.

Existe mais um pequeno detalhe: a indiferença.
Qualquer um reclama atenção, qualquer um!
Então tudo é absurdo, apesar de pontuações,
de pontos de vista, de necessidades.
Mas poucas coisas são absurdas, na verdade,
já que uma flor não é absurdo,
o amor não é absurdo,
o carisma não é absurdo,
a rima e o ritmo não são absurdos,
gêneros e estilos não são absolutamente um absurdo.
É quase tudo uma questão de referenciais.

Existem coisas absurdas, é claro!
Mas são todas tão coerentes e simples,
tão espontâneas e singelas,
que não se parecem com qualquer absurdo.
Um poema absurdo não existe,
Um poeta absurdo não existe,
Um verso absurdo não existe.
O que existe e, isto sim, é um absurdo
são palavras sem sentido
que se juntam só porque nunca souberam a diferença
entre a indiferença e o absurdo,
entre o absurdo e a diferença.

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Publicado no Jornal "O Bandeirante" n.168 - abril de 2008
Publicado na "Antologia Paulista 2009" 

Rumo Editorial - São Paulo - 2009
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