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27.3.10

Silêncio
















Gostaria que cada um dos senhores me desse um minuto de sua valiosa atenção. Por favor! Silêncio... Por favor... Isto não é uma ordem, é só um pedido, de forma que todos os que pretendam continuar falando ao celular ou manter conversas paralelas durante os próximos minutos serão bem compreendidos.

O que quero lhes pedir nestes meus parcos momentos em que se calam para me ouvir é que continuem em respeitoso silêncio...

Eu nunca atentei contra a vida. Nem a minha nem a de outrem. Também não atentei contra o patrimônio de ninguém. Jamais me passou pela cabeça gestos tão extremados. A televisão já está cheia disso, durante vinte e quatro horas por dia. O meu bairro está cheio disso, durante o tempo todo. Eu já estou cheio disso! Completamente cheio!

Acho que vocês também, que agora se calaram, já estão completamente cheios disso! Então por que se calaram para me ouvir? E por que se calaram? Para me ouvir? Decerto porque acharam que eu teria algo novo a lhes dizer...

Mas só lhes peço, senhoras e senhores, e já que me deram a respeitosa vez do silêncio, que ouçam o silêncio de cada um de vocês... Ouçam... Verifiquem se há sirenes alarmadas. Perscrutem se há gritos de dor. Ouçam... Há estertores de inocentes? Gemidos de desvalidos? Clamores de desprotegidos? Há súplicas de desesperados? Lá no fundo, bem no escondido, há um choro qualquer? Teu silêncio te deixa incomodado? Ouça-o mais um pouco.

Particularmente, acho que o meu silêncio me incomoda. Por isso os convido, minha muda senhora e meu quieto senhor para que pensem: porque estamos em silêncio?

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Publicado no jornal "O Bandeirante" n.178 - setembro de 2007
Publicado na "Antologia Paulista 2009" 

Rumo Editorial - São Paulo - 2009
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