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27.8.11

Sinceridade
















A mentira é uma conveniência. Seria bom se tentássemos ser menos convenientes com certas coisas. Pelo menos não seríamos tão mentirosos. Principalmente com relação às pessoas a quem prezamos e queremos muito, deveríamos ser um pouco menos inconvenientes de vez em quando. Faria um bem danado a todos, pois pelo menos não seríamos apenas o protótipo latente da mentira. E haveria o mais legítimo carinho, o mais puro querer bem!

Já a conveniência é uma questão de escolha. Seria bom se tentássemos escolher com mais critério o que nos convém. Pelo menos não seríamos tão superficiais com relação à verdade. Principalmente com relação à pretensa verdade de certas escolhas que fazemos por conveniência momentânea. Deveríamos ter um pouco mais de senso, do bom, na hora de priorizar escolhas, pois certamente estaríamos mentindo um pouco menos. Menos para uns e mais para outros, é verdade, pois infelizmente sempre haveria mais mentiras e conveniências do que sinceridade e verdade na maioria de nossas escolhas. É próprio de nós humanos.

Por sua vez, a escolha é uma prioridade regida pelo egoísmo. Temos plena convicção de ter feito as escolhas certas, sempre que nos certificamos que estas são certas para nós mesmos. Raramente temos um olhar macro, justamente por causa do egoísmo. Apenas decidimos o que melhor nos convém e damos o caso por encerrado assim que nos convencemos de que aquilo é realmente o melhor. Para nós mesmos.

E então mentimos. Descaradamente. Esquecemo-nos da fidelidade e da gratidão. Esquecemo-nos momentaneamente do quanto já havíamos feito para que acreditassem em nós. Desprezamos a sinceridade do relacionamento para priorizar a conveniência. E isso nos basta, quase sempre. Só que, infelizmente, é assim que perdemos a credibilidade e a confiança que tanto nos custou a conquistar e que são fundamentais para tudo o mais que pretendemos. Perdidas a confiança e a credibilidade, pouco nos resta.

A relação entre as pessoas é complexa demais para que se possa decidir certas coisas apenas com um olhar ou com algumas palavras. É pouco para nosso ser ávido de conquistas e pleno de conveniências. Deveria ser assim, é verdade, mas infelizmente não é, simplesmente porque sempre uma das partes vai querer ser mais conveniente que a outra. É daí que vem uma mentira conveniente, um olhar conveniente, uma palavra não menos conveniente... E, é claro, a mentira. Mentira não... Conveniência.

Ninguém diz mentiras. Todos são convenientes. E sempre são extremamente sinceros em suas conveniências, pelo menos consigo mesmos.

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Publicado na "Antologia Paulista 2011"
Rumo Editorial - São Paulo - 2011
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