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28.5.13

Brevíssima teoria sobre a desimportância
















Pode não acontecer nesta ordem ou proporção, mas um dia acordaremos atrasados e não daremos conta do significado de alguns minutos a menos em nossa rotina. Lapso involuntário. Noutro dia notaremos que nosso bom dia dito numa sala cheia virou apenas um eco da nossa própria voz.  Rotina desconfortável. Mais além, nos sentiremos praticamente invisíveis, pois ninguém mais notará nossa presença ou nossa ausência. É o limbo do tanto faz.  Um pouco adiante poderemos constatar que ninguém mais tem tempo para nos ouvir ou para nos dar alguma atenção. É a consciência tardia.

É nesse instante que não nos custará nada perceber outras tantas coisas que revelam nossa total desimportância. É justamente nesse tempo que talvez pensemos em nos recolher à nossa insignificância e tentar rebobinar o filme de nossas vidas em busca das falhas de continuidade da película em que fomos protagonistas ou coadjuvantes.

Talvez possamos acreditar que ainda dá tempo de remasterizar, reciclar, cortar e editar o que for possível dos rolos de nosso filme para tentar um final menos melancólico. Mas logo chegaremos à conclusão que finais felizes só existem no cinema e dependem de bons roteiros, bons atores, boa trilha sonora, bons diretores e um monte de etecéteras... Então pensaremos, ao refletir sobre nossa completa desimportância: “Quem sou eu para querer tanta coisa e ainda por cima um final feliz? Corta!”. Então talvez nos ocorra que, apesar de tudo, ainda poderemos fazer de nossa película “B” um verdadeiro cult movie. “Gravando!”

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Publicado na coletânea "A Pizza Literária - décima segunda fornada" 
Rumo Editorial - São Paulo - 2012
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