Encontre o que quer ver

18.11.13

Big Brother





















Em 1948 George Orwell escreveu seu mais famoso romance, o clássico 1984, onde numa sociedade futurista do território de Oceânia todos os habitantes tinham os seus passos vigiados pelo Grande Irmão. Apenas para relembrar, na trama de Orwell, o governo totalitário de Oceânia mantinha espalhadas em cada recanto possível e imaginável, teletelas, uma espécie de aparelho de televisão. Ao mesmo tempo em que transmitiam informações ininterruptamente, vinte e quatro horas por dia, também eram responsáveis por capturar áudio e vídeo de quem passasse na frente delas, mantendo dessa forma os cidadãos vigiados em todos os seus movimentos.

Isso fazia com que eles tivessem cuidado absoluto com tudo que diziam, faziam e até pensavam, pois simples pensamentos contrários ao ideal do Partido, simbolizado pela figura onipresente do Grande Irmão, quando percebidos, eram considerados crimes passíveis da aplicação de severas penas. É a partir desse ponto central que toda a história de Orwell se desenrola.

Seria apenas mais uma utopia da ficção científica, gênero literário tão largamente difundido, não fosse a velocidade assombrosa com que a ficção tornou-se realidade. Chega a ser terrível quando nos conscientizamos do quanto o Grande Irmão está presente em nossas vidas nos dias atuais. Sistemas cada vez mais sofisticados de câmeras espiãs espalhadas por todo canto vigiam, monitoram e penalizam os cidadãos do mundo atual. Que motorista de nossos dias ainda não foi multado por uma dessas câmeras espiãs cada vez mais numerosas em ruas e estradas?

Além da pretensa intenção de oferecer “segurança”, esses diabólicos aparelhos também se tornaram um instrumento de invasão de privacidade. Se você olhar com atenção verá essas câmeras afixadas em restaurantes, elevadores, lojas, corredores de edifícios, portões de residências, hospitais, etc. Eventualmente, de forma ostensiva, acompanhadas de cartazes cínicos dizendo “sorria, você está sendo filmado”. Mas também afixadas de forma subreptícia em locais que nem suspeitamos, e da mesma maneira nos espionando.

Mas ao contrário do que se poderia supor, os cidadãos vigiados, ao invés de se indignarem com a excessiva e cada vez maior invasão de privacidade, sujeitam-se a ela de forma passiva. Voluntariamente vão se acostumando e até a exigem. Um exemplo disso são aparelhos celulares androides que os mantêm vigiados e ao mesmo tempo vigiando o mundo todo, em simples toques na tela. Conexão total, geral e irrestrita. Totalmente globalizada e invasiva.

Por isso estou convencido que temos que estar cada vez mais atentos com o que fazemos, dizemos e até com o que pensamos. Como os personagens do romance de Orwell, tudo poderá ser usado contra nós. E como escritores, devemos ter o cuidado de refletir sobre nossas abstrações, utopias e histórias surreais que registramos no papel, torcendo para que as mais perigosas não se tornem realidade.

_________________________________________________

Publicado na "IX Antologia Paulista"
Rumo Editorial - São Paulo - 2013
___________________________________________________

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...